quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Tudo se compõe e se decompõe

Se encontraram por acaso, em uma dessas esquinas de qualquer rua, em uma coincidência sem fim. Ela deixou seu coração cair sem querer e ele pegou, também sem querer. Nenhum dois dois queria, mas o destino lhes negou o querer. O mesmo destino que queria que fossem felizes não deixou que optassem por serem felizes sós. Tinha que os unir de alguma forma. Por bem, ou por mal, como fora. Por mal porque não eram maduros o suficiente para se envolver. Ela sem medo, ele com todo o medo do mundo. Medo esse que os fizeram se desentender várias vezes. Assim como os sonhos dela. Não havia muito equilíbrio. Ela sonhava e ele o acordava nos ápices dos sonhos. Mas mesmo assim tentaram, achavam que valia pena. Como realmente valia.
De repente os dois eram um só. Ele aprendeu a sonhar uma vez por semana, e ela a ser realista e assistir os telejornais. Daquele encontro por acaso, uma paixão desenfreada, louca e dessa um amor intenso e extremamente impulsivo. Assumiram o sentimento. Isso depois que ela viu que no fundo ele era um menino sensível, que só tinha medo do mundo. E ele viu que ela não fugia por querer e sim por medo de se decepcionar. Mas após uma proposta de namoro olhando profundamente nos olhos, o amor foi posto em primeiro lugar. E todas as fobias foram esquecidas.
Ele procurava sua primeira namorada. Ela encontrou nele o seu primeiro amor de verdade. E aí foram rumo ao mundo, enfrentando cada obstáculo. E como eram felizes! Entre uma caipirinha e outra filosofavam sobre a vida. E no fim sempre chegavam em casa brigando, mas no outro dia era colo, eu te amo, pipoca, brigadeiro e a eterna certeza de que eram almas gêmeas. Se identificavam até nos joguinhos preferidos de video-game. Assim passavam tardes brincando como crianças e realmente tinham alma de crianças. Sem querer se xingavam como crianças e depois estavam mil maravilhas de novo! Todo mundo achava lindo a forma como se tratavam, engraçada ao menos. Piadas, brincadeiras, uma alegria contagiante. Ela as vezes bebia e falava um monte de bobeiras e ele ficava quase roxo de vergonha. Assumiam tudo o que faziam, assim como o que ainda não faziam. Assim como quando fizeram. Era tudo especial entre eles. Novidades para os dois, um mundo que ainda não tinham provado.
Devagar foram se descobrindo. Viram coincidências demais em suas vidas. Desde as piores até as melhores. Ele achava ela a menina mais linda do mundo, olhava em seus olhos e com sua pureza a fazia acreditar. Ela tinha a impressão de que até então só tinha tomado água e de repente tinha conhecido os sucos e refrigerantes. Formavam o casal perfeito. Até nos defeitos. Dormiam por horas e mais horas e achavam graça de somente dormirem juntos. Se viciaram. Ela nele e ele nela. A vida de um não fazia mais sentido sem o outro. Nenhum sentido. Ele aprendeu a chorar nos braços dela. Ela aprendeu a se consolar nos braços dele. E tudo foi perdendo tanto o sentido que um passou a viver para o outro.
Erraram muito. Ela com ele e ele com ela. Até que ela precisou abrir mão de um grande sonho. Teve que acordar como ele tentou fazer muitas vezes. Mas ele ficou ao lado dela mesmo acordada. E ele foi incentivado por ela a sonhar. E ela acreditava nos sonhos dele. Ela tinha muito orgulho dele, sabia que ele podia ir mais longe do que pensava. E assim foram trocando conceitos de vida. Sempre!
Chegou um a um ponto em que a imaturidade de ambos falou mais alto. E ao mesmo tempo um senso de maturidade. Sabiam que já não podiam viver mais um pro outro. Ainda havia muito a ser feito pelo mundo. Começaram a se desesntender em torno de 10 vezes ao dia. E a chorar de sofrimento mais que por emoção. Ele já não a deixava sonhar nem um pouco e ela começou a falar bobeiras enquanto ele via os telejornais. Isso irritava totalmente os dois. Começaram a se destratar, a mexer nas feridas. Sempre mexiam no que mais machucava. Já não tinham mais o dom de jogar video-game pra esquecer, nem de fazer piadas. Cairam numa relação doentia de amor e ódio. Regada por um ciúme sem fim. Impaciência sempre, essa passou a ser a rotina deles. Ele já não ia mais jogar futebol e ela já não se abria com as amigas.
Depois disso passaram uma semana maravilhosa. Quase perfeita. Um vivia pelo outro. Dormiram juntos todos os dias. Ela o esperava para almoçar todos os dias. Ele chegava do serviço e tinha todo o carinho e amor do mundo. Ouviram música, viram filmes, falaram bobeira, contaram piada, saíam para passear e sempre olhavam para o céu e ficavam ainda mais românticos. Ela estava radiante de felicidade. Ele também. Achavam que ali haviam encontrado o equilíbrio para o amor deles. Mas quando as coisas estão boas demais, é sinal de que algo errado vai vir. Ele não confiou nela, lembrou de coisas ruins e não acreditou nas palavras dela. Ela foi autoritária ao invés de acalmá-lo. E aí se perderam numa esquina diferente da que se encontraram. Ela chorou e ele se foi. Ambos com o coração no chão novamente. Sem esperanças de que mais alguém vai encontrar. Ela só quer que ele o pegue novamente. Ele ela não sabe. Ela tentou correr atrás, ele também. Mas cada um correu no momento incorreto. E aí não deu certo. Não conseguiram mais se encontrar. Ela não achou mais o coração dele. Ela não sonha mais. Voltou a tomar água novamente. Ele? Foi rumo ao mundo em busca de seus sonhos, que até então não acreditava...
"Tudo se compõe e se decompõe"...
Hoje, bom, não sei como ela está... Nem como ele está por dentro. Ela em sua dose de realidade não vê sua vida sem ele. Ele em sua dose de sonhos já não vê sua vida com ela... Já não consegue parar de mexer nas feridas. Ele só vê as feridas. Aprenderam a não se perdoar nunca. E ela, não está nem aí pra o que o mundo pensa, ela só pensa nele... E ele, talvez queira que ela tenha sido somente um pesadelo.

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